Ascensão das mulheres no mercado de trabalho

Marcelo Furtado
Gestão estratégica de RH
  13 min. de leitura

É crescente a presença das mulheres no mercado de trabalho, atuando em áreas variadas e ocupando cargos diversos. Suas trajetórias profissionais são verdadeiros exemplos de mudança e luta por igualdade de tratamento. 

O machismo predominante na sociedade e, principalmente no universo profissional, impõe dificuldades diárias às mulheres no mercado de trabalho.

Apesar dos avanços alcançados muitas dificuldades ainda predominam. As oportunidades de crescimento acontecem, mas ainda em números pouco expressivos quando comparado aos homens no mesmo cenário corporativo. É nítida a disparidade e a certeza de que há muito a ser feito para equiparar a realidade dos gêneros.

Nesse conteúdo vamos discutir qual a importância da mulher no mercado de trabalho, como se deu a sua ascensão, e os desafios para o dia de hoje. 

Atuação das mulheres no mercado de trabalho

Um dos critérios para se constituir uma sociedade justa é o nível socioeconômico da população ser  saudável. Para que isso aconteça ela deve apresentar um expressivo potencial produtivo. Isso é possível quando há a provisão de mão-de-obra suficiente para colaborar com o desenvolvimento local e nacional, além do equilíbrio de oportunidades para todos. 

Porém, quando se trata do mercado de trabalho brasileiro o cenário não é favorável para o avanço socioeconômico do país. Observamos principalmente como a esfera trabalhista ainda desfavorece as mulheres. Um relatório elaborado no ano de 2020 pelo Fórum Econômico Mundial atesta essa condição.

O documento, intitulado Global Gender Gap Report (Relatório Global sobre a Lacuna de Gênero), mostrou que o Brasil está na 130º posição no ranking de 153 no que diz respeito à equidade salarial entre homens e mulheres que ocupam cargos similares. A pesquisa apresenta dados que comprovam a desigualdade das mulheres no mercado de trabalho nacional. 

Mas isso não é resultado de dificuldades enfrentadas nos tempos atuais. Para entender o lugar da mulher no mercado de trabalho é preciso voltar ao passado e compreender as práticas de épocas distintas. É necessário se aprofundar nas divergências não apenas de gênero, mas também de raça e condição social.

Gênero: uma perspectiva histórica

Voltemos ao Período Colonial (1500–1822), onde as mulheres brancas estavam abaixo do gênero masculino nos quesitos econômicos e sociais. Cabia a elas cumprir o papel de mãe e esposa. A função da mulher branca se restringia ao trabalho doméstico e a criação dos filhos.

A atividade econômica era baseada na escravidão. Mais uma vez, uma nova distinção de atividades entre as mulheres de raças diferentes. Se a mulher branca era vista como um indivíduo impedido de participar ativamente da sociedade, a mulher negra era vista de uma maneira diferente, ainda mais violenta e excludente.

Quando a abolição ocorreu no ano de 1888, o Brasil Império não se preocupou em integrar as mulheres negras à sociedade. 

No Brasil República as condições começam a se modificar. Graças à Constituição Federal de 1934, o cenário permitiu, pela primeira vez, que mulheres começassem a ingressar no mercado de trabalho. Elas alcançaram seus primeiros direitos trabalhistas e cuidaram de outras atividades além das domésticas. 

Essa virada foi motivada também pela transformação industrial que o país vivenciava. Com a implementação de fábricas por todo o território nacional, a presença das mulheres no mercado de trabalho ganhou reforço pela sua mão-de-obra nestas grandes companhias. 

Foi o momento de  impulsionar a presença das mulheres no universo do trabalho, no entanto, ainda de maneira muito desigual quando comparamos aos homens. 

Os resquícios da escravidão e das estruturas machistas que fazem parte da nossa história ainda se fazem presentes no mercado de trabalho atualmente, ainda que de maneiras mais sutis. Podemos observar essas diferenças de maneira nítida a partir de alguns dados, como veremos a seguir. 

Diferença salarial em 2022

Mesmo com todas as mudanças e avanços a despeito da mulher no mercado de trabalho é perceptível que há muito a ser feito para eliminar as diferenças existentes.

Um artigo revela dados do PNADC 4TRI/2019 e da RAIS 2019 que reforçam a diferença da remuneração da mulher negra no mercado de trabalho. No período demonstrado, as trabalhadoras recebiam até 71, 31% a menos quando comparadas aos homens brancos. O mesmo estudo apontou que essa diferença também ocorre com as mulheres brancas, sendo o percentual de 20,42% em relação à mão-de-obra masculina.

Publicada no dia 08 de março de 2022, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, uma pesquisa feita em parceria pelo G1 e o IBGE mostra que o quadro ainda não favorece as mulheres no mercado de trabalho. 

O resultado do estudo indica que mulheres ganham cerca de 20,5% a menos que homens no Brasil. A discrepância dos salários entre os dois gêneros ocorre mesmo que ambos possuam o mesmo nível de escolaridade, perfil e ocupação.

O impacto da pandemia no mercado de trabalho feminino

Se os desafios enfrentados pelas trabalhadoras do país já eram muitos, a pandemia reforçou a triste realidade por trás dos números das mulheres no mercado de trabalho hoje.

Entre o mês de abril e maio de 2020 a pesquisa “Sem parar – o trabalho e a vida as mulheres na pandemia” apontou os seguintes dados:

  • 50% das participantes passaram a se responsabilizar pelos cuidados de outra pessoa;
  • 72% perceberam o aumento da necessidade de companhia e monitoramento;
  • 41% das mulheres que continuaram trabalhando na pandemia com o mesmo salário notaram que houve um aumento de carga horária na quarentena;
  • Dificuldades para a manutenção da casa por causa da pandemia e necessidade de isolamento social foram relatadas por 40% das entrevistadas;
  • O maior índice de desemprego entre as participantes está nas mulheres negras: 58%;
  • 78% da economia solidária é constituída por mulheres negras;
  • 8,4% das mulheres reconheceram que sofreram algum tipo de violência durante o período de isolamento. A maioria dos casos e tipos de agressões afetaram diretamente as mulheres negras.

O ano de 2020 contabilizou em seu término um número expressivo de mulheres sem nenhuma ocupação profissional. Mais de 1,1 milhão a mais em comparação ao quantitativo de 2019 no mesmo período. Além disso, houve uma redução significativa no número de mulheres no mercado de trabalho.

Mulheres estão tendo uma liderança forte, mas não estão sendo reconhecidas por isso

Se por um lado temos um retrato bastante crítico da situação de diversas mulheres brasileiras, por outro lado temos contextos positivos para uma parcela delas. A situação da mulher brasileira no mercado de trabalho também expressa a força feminina nos cargos de liderança.

Um estudo realizado pelo IBGE intitulado “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil” apontou que 37,4% das mulheres no mercado de trabalho ocupam cargos de liderança no Brasil.

Apesar do otimismo em saber o quanto elas conseguem o seu espaço em posições estratégicas, é sabido que há muita luta pela frente para mudar algumas situações. 

No que diz respeito à remuneração, por exemplo, as mulheres no mercado de trabalho no Brasil em cargos de liderança ganham até 77,7% a menos que os homens na mesma condição, apesar de terem a qualificação necessária que a ocupação exige.

Como tornar o mercado de trabalho mais inclusivo?

A fim de erradicar as diferenças existentes entre as oportunidades concedidas às mulheres no mercado de trabalho quando comparado aos homens, é preciso modificar a conjuntura atual. O primeiro passo é trabalhar a diversidade e inclusão na empresa viabilizando a entrada de mulheres de condições e perfis variados.

Veja 7 maneiras de tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo para diminuição das desigualdades.

 1. Compreender e adaptar-se às mudanças no estilo de vida

Mesmo após tantas mudanças na sociedade brasileira, a dupla jornada de trabalho faz parte da realidade de milhares de mulheres no mercado de trabalho. Dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelam que as trabalhadoras possuem uma carga horária de 7,5 horas a mais que os homens.

Isso se deve ao fato de que, além da jornada de trabalho em seus empregos formais, as mulheres ainda se responsabilizam pelos cuidados domésticos e também com a criação dos filhos. Resultado: pouco tempo pós-expediente para dedicar-se a algum tipo de qualificação profissional. 

A empresa precisa entender as realidades diferentes e ver caminhos para que as mulheres no mercado de trabalho possam crescer profissionalmente. Alguns exemplos já praticados: auxílio creche, espaço para crianças no ambiente de trabalho, entre outros. 

 2. Continuar o desenvolvimento profissional

Destacar-se numa multidão de profissionais não é fácil, especialmente quando a maioria esmagadora é formada por homens, sem investir no desenvolvimento profissional.

Quanto mais preparadas estiverem, maiores serão as chances das mulheres no mercado de trabalho de conquistarem as melhores vagas e posições nas empresas. É dever das organizações que se preocupam em criar um ambiente inclusivo e diverso, a promoção de ambientes nos quais suas colaboradoras se desenvolvam. 

Além do interesse particular das mulheres em sua formação, é preciso haver uma organização da própria empresa para oferecer treinamentos e ajuda de custo para preparar suas colaboradoras, mesmo no ambiente interno da organização. Dessa forma elas poderão ter acesso a melhores oportunidades no universo do trabalho, diminuindo as assimetrias sociais. 

3.  Entender a diversidade no gênero

No universo feminino encontramos várias realidades diversas que devem ser respeitadas pelas suas trajetórias e também por suas escolhas. Mulheres negras, mulheres da terceira idade, lésbicas, bissexuais, mulheres trans, neuro divergentes, pcds etc. Estas últimas devem ocupar seus espaços no mercado de trabalho sob amparo legal, já que existe uma lei para garantir a sua contratação nas empresas.

Mesmo que não existam legislações específicas para toda a diversidade do público feminino, empresas com responsabilidade social devem preocupar-se em selecionar colaboradoras com perfis e identidades diferentes. 

Promover um ambiente inclusivo e com oportunidades para todas é uma forma da organização contribuir para diminuir as injustiças e desigualdades da sociedade em relação às mulheres. 

4.  Recrute e oriente enquanto fornece uma comunidade

Não basta recrutar e selecionar uma mulher no mercado de trabalho sem oferecer as mínimas condições possíveis de aprendizado sobre a suas tarefas. Por mais conhecimento que a colaboradora possua a respeito de determinada área, as execuções das atividades podem modificar de uma organização para outra.

Políticas organizacionais costumam ser muito específicas sobre o seu Modus operandi. Por isso, estabeleça uma comunidade que esteja pronta para acolher as novas contratadas no seu onboarding

Garanta que haverá todo o suporte necessário, seja material ou humano, para assegurar que a colaboradora terá tudo o que precisa para executar um trabalho eficiente.

5. Invista em liderança

A pauta do feminismo no mercado de trabalho serve para reforçar a igualdade de gêneros nas organizações. Ao longo do texto apresentamos dados que apontam o quão divergente é a realidade entre homens e mulheres no mundo corporativo.

Quando se trata de um gestor do sexo masculino, é preciso ser cauteloso quanto à coerência do discurso com a prática. Não adianta incentivar o desenvolvimento profissional, debater pautas feministas, falar sobre as dores das mulheres, sem ao menos dar a oportunidade de ocupar um cargo de destaque nas organizações.

Para mudar esse cenário, invista na contratação e promoção do público interno feminino. Incentive a movimentação de pessoal inserindo as mulheres como fortes candidatas a ocuparem posições estratégicas na companhia. 

6. Apoio a maternidade

A decisão de gerar uma vida é algo estritamente pessoal e não é fator para mensurar a capacidade produtiva de uma mulher.  Em pleno século XXI é possível encontrar mulheres no mercado de trabalho com receio da gestação por motivos de demissão.

Não se trata apenas do medo da ação de seus gestores do gênero masculino. Há colaboradoras que escondem a sua situação até mesmo da liderança feminina, com receio de não receberem apoio. 

Escrever uma história diferente sobre o capítulo maternidade nas organizações está ao alcance de todos. É uma questão de empatia e respeito. Ao tomar conhecimento sobre a próxima gestante da sua companhia, ofereça todo o suporte necessário. 

Para o RH, a recomendação é de construir  diálogos abertos sobre todos os direitos, entre eles a lei trabalhista para gestante. Faça com que ela se sinta acolhida nesse momento tão especial.

7. Comitês de apoio à mulher

Ser mulher não é fácil, principalmente no Brasil. Com tantos obstáculos a vencer fora do trabalho, a colaboradora também precisa vencer seus desafios no ambiente corporativo. Um local competitivo por natureza, que não está isento de episódios desagradáveis, infelizmente. Mesmo assim, é um contexto que pode ser contornado com ações simples.

A criação de um comitê de apoio à mulher é uma forma de  discutir e combater problemas que se arrastam por anos nas organizações, como assédio e abusos diversos no trabalho, por exemplo. Nesses comitês, é importante ter um apoio jurídico para haver denúncias concretas. 

Além disso, o comitê  tem a responsabilidade de montar  espaços de debate  para propor melhorias para os problemas existentes é uma excelente ação. Além da criação de planos para engajar e conscientizar os demais colaboradores da empresa nessas questões. 

Essas são algumas ações que podem ajudar na ascensão das mulheres no mercado de trabalho. Outras medidas devem ser tomadas para garantir o desenvolvimento das trabalhadoras no ambiente corporativo.

As mulheres conquistaram muitos direitos e espaços no mercado de trabalho, graças à luta realizada ao longo dos séculos. No entanto, ainda estamos longe de um status social que seja ideal e igualitário. 

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