No Brasil, 30% dos novos negócios quebram nos dois primeiros anos de atividade.
Algumas das causas são bem óbvias. De acordo com uma pesquisa conduzida pelo Sebrae-SP em 2014, os três principais culpados pela elevada taxa de mortalidade de empresas brasileiras são falta de clientes, alta carga tributária e ausência de capital de giro.
Mas um dos motivos que figuram no topo das lista de motivos é ignorado por muitos que estão em vias de abrir o próprio empreendimento: a escolha errada do sócio de negócio.
E por que o empreendedor erra na escolha de sócios? Acima de tudo, porque escolhe um sócio que é parecido com ele.
É sempre mais confortável e tentador conviver com uma pessoa que age de maneira semelhante à nossa e que concorda sempre com as nossas opiniões. Mas isso pode ser um tiro no pé.
Pense nos dois Steves que fundaram a Apple: Jobs e Wozniak. O arrojado Jobs era focado em estratégia, conceito de produto e vendas; o recatado Wozniak era brilhante em competência operacional e técnica. Ou seja, eles tinham habilidades complementares e dividiram suas atribuições na empresa ao estilo “um faz, o outro vende”.
O que está por trás do sucesso das sociedades são as personalidades e habilidades complementares de cada um dos fundadores.
“Ok, mas como posso saber precisamente se a personalidade do meu futuro sócio é diferente da minha”?
Uma das formas mais eficazes é por meio da Tipologia Myers-Briggs.
O célebre psiquiatra Carl Jung começou a estudar, em meados da década de 1920, os diferentes traços da personalidade humana. A abordagem dele considerou que o comportamento humano não é aleatório, mas previsível e classificável.
Uma década mais tarde, a britânica Katharine Cook Briggs e sua filha Isabel Briggs Myers revisaram e ampliaram os estudos jungianos mencionados no parágrafo anterior, concebendo a Tipologia Myers-Briggs – uma matriz que define 16 tipos de personalidade que cada indivíduo deste planeta pode cultivar. A partir dos anos 1990, o modelo se tornou o mais utilizado no mundo para traçar personalidade.
De acordo com esse sistema, nossa personalidade é formada por quatro eixos, que descrevem como carregamos nossa energia, como lidamos com informações recebidas, como tomamos decisões e como orientamos nossas vidas.
Dentro de cada um desses eixos existem dois polos, que representam nossas preferências em relação àquele tipo de comportamento. Nós não necessariamente agimos de maneira fixa e rígida dentro de um eixo (podemos flutuar entre um polo e outro ao longo da vida, ou até nos manter sempre próximos ao centro), mas tendemos a preferir um dos lados. E são essas preferências que moldam nossa personalidade.
No eixo como carregamos nossa energia, há os polos extroversão e introversão. Pessoas extrovertidas recarregam sua energia interna por meio do contato com outras pessoas, enquanto pessoas introvertidas se sentem revigoradas depois de passar algum tempo sozinhas.
Repare que uma pessoa introvertida não é obrigatoriamente tímida, afinal a timidez está ligada à insegurança em lidar com pessoas, não ao modo como a energia é recuperada (um indivíduo pode ser sociável e, ainda assim, introvertido, sentindo necessidade de passar algum tempo sozinho depois de muita interação com outras pessoas).
No eixo como lidamos com informações recebidas, temos os polos sensação e intuição. Pessoas sensoriais abordam as informações recebidas de forma literal: se apegam a fatos e detalhes e gostam de focar no aqui e no agora. Quem é intuitivo, por outro lado, aborda as informações recebidas de maneira figurada, então não é atento a detalhes e prefere extrair o conceito geral, o big picture das coisas, além de procurar por relações entre elas.
Uma ótima analogia para diferenciar essas duas preferências é a seguinte: quem se identifica com o polo da sensação olha um quadro e vê um monte de árvores; quem se identifica com o polo da intuição olha o mesmo quadro e vê uma floresta.
No eixo como tomamos decisões, temos razão e emoção. Pessoas racionais usam dados e argumentos lógicos para tomar as decisões de suas vidas, enquanto pessoas emocionais se baseiam em como se sentem para tomar as mesmas decisões.
Imagine um cenário no qual um funcionário pede um dia de folga ao chefe para visitar um parente idoso que está doente. O chefe racional daria o dia de folga por pensar que a produtividade de seu subordinado iria despencar caso ele não visitasse o parente; já o chefe emocional daria o dia de folga por se sensibilizar com a situação de seu colaborador e para mostrar que a empresa o valoriza.
Por fim, no eixo como orientamos nossas vidas existem os polos julgamento e percepção. Quem é julgador, gosta de planos, metas e ordem; já quem é perceptivo prefere deixar suas opções em aberto e gosta de flexibilidade.
Perceptivos tendem a receber informação e não tirar conclusões sobre ela; ao passo que julgadores gostam de tirar conclusões e tomar decisões sobre as coisas e evitam receber novas informações – especialmente se elas puderem mudar suas decisões iniciais.
Fonte: www.inspira.org
Quer saber qual é o seu tipo de personalidade? Descubra aqui
Quando agrupamos nossas preferências de comportamento de cada uma dessas quatro instâncias, descobrimos qual é o nosso tipo de personalidade dentre as 16 combinações possíveis:
Fonte: http://www.bandbacktogether.com/personality-types-resources/
Consegue vislumbrar como existem muitos tipos de comportamento distintos do seu?
O propósito de escolher um sócio que seja diferente de você baseado na tipologia Myers-Briggs é mesclar habilidades, e até visões diferentes de negócio, para que as forças de um compensem as fraquezas do outro – e também para evitar decisões erradas causadas por uma eventual miopia de algum sócio (que acha tem “a visão correta”). O sócio diferente sempre estará lá para, pelo menos, sugerir uma outra perspectiva.
A esta altura, você já deve ter percebido que esse método de avaliação de personalidade é útil não somente para escolher seu sócio, mas também para avaliar candidatos em processos de recrutamento e seleção.
Alguns cuidados a serem tomados:
Existem, contudo, dois cuidados cruciais a serem tomados na escolha de um sócio de negócio, mesmo considerando alguém com personalidade complementar à sua.
Cuidado 1: Escolher um sócio com quem é agradável passar o tempo junto
Jack Shannon, co-fundador da empresa americana Recess, que une empreendedorismo e festivais de música, defende que é fundamental escolher um sócio com quem seja agradável passar muito tempo junto.
No final das contas, você estará geograficamente próximo do seu sócio quase todos os dias, então para o bem de sua saúde (e da empresa) é melhor que o convívio seja, na maior parte do tempo, gratificante.
Cuidado 2: Escolher um sócio que divide a paixão/ambição com você
Se no quesito “habilidades” o seu sócio deve ser preferencialmente complementar a você, no quesito “paixão” ele deve ser parecido com você. Ambos precisam ter uma ambição próxima para construir um negócio de sucesso.
A empresa de essências para cigarro eletrônico Cyclop Vapor foi fundada por dois profissionais, Gary Lambert Jr. and Zack Carpenter, que dividiam o desejo de ajudar as pessoas no processo de parar de fumar. Essa foi a fagulha inicial que os inspirou e motivou para montar o negócio.