Já implementada no Japão, Emirados Árabes Unidos e em alguns países da Europa, a semana de 4 dias de trabalho é uma tendência que está ganhando cada vez mais atenção entre os profissionais de RH.
Proposto já há alguns anos, o conceito ganhou força na pandemia, quando o trabalho flexível evidenciou que a produtividade não está necessariamente ligada ao local e à quantidade de horas demandadas, e que o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional deve ser priorizado.
Se a sua empresa já adota uma postura inovadora, mas acredita que pode fazer ainda mais em prol da experiência dos funcionários, vale a pena considerar esse novo modelo.
Afinal, ele impacta diretamente na otimização dos recursos empresariais e, principalmente, na saúde e na qualidade de vida dos profissionais, resultando em mais engajamento, retenção de talentos e aumento de performance.
Mas, como surgiu essa proposta? Qual a sua adesão no Brasil? Como funciona a semana de 4 dias? Quais as vantagens para a empresa e para os colaboradores? Como testar a sua eficácia?
A origem da semana de 4 dias de trabalho
Como citamos, foi durante a pandemia da Covid-19 que o mercado voltou suas atenções aos impactos dos modelos de trabalho mais flexíveis.
Entretanto, sua viabilidade e eventuais benefícios já eram debatidos antes disso. No caso da semana de 4 dias úteis, seu principal porta-voz é Andrew Barnes, um empresário e filantropo neozelandês.
Em sua palestra “The 4 Day Week”, ele levanta alguns dados interessantes. Por exemplo, os profissionais britânicos são produtivos em apenas duas horas e meia diárias. Já os canadenses têm uma boa performance no trabalho apenas uma hora e meia por dia.
Os dados são semelhantes ao redor do mundo. Por isso, diminuir o volume de dias dedicados à empresa em troca de um maior foco produtivo seria uma troca bastante viável.
O pressuposto é justamente o aumento da produtividade, maximizada pelo direcionamento mais estrito da performance ao longo da jornada reduzida.
Somado a isso, há o engajamento e a retenção oriundos do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos talentos. Ao mesmo tempo, as companhias ainda conseguem poupar custos e otimizar processos.
Barnes é fundador da companhia de gestão patrimonial Perpetual Guardian. Em 2018, ela lançou um projeto pioneiro, implementando a semana de 4 dias úteis junto aos seus colaboradores. A ação foi um sucesso e já influencia diretamente o mercado da Nova Zelândia.
Países que aderiram à semana com 4 dias de trabalho
Além das empresas neozelandesas, outros mercados importantes aderiram ao novo formato de jornada semanal. Espanha, França, Reino Unido e Dinamarca têm diversos cases de sucesso, ganhando cada vez mais entusiastas entre talentos e empregadores.
Contudo, o maior destaque é para a Islândia. Entre 2015 e 2019, seu governo realizou um experimento em que 1% da população aderiu à semana de 4 dias. O projeto teve tanto sucesso, que os sindicatos passaram a negociar uma mudança permanente para o formato.
Fora das fronteiras europeias, os Emirados Árabes Unidos também reconheceram os benefícios do modelo. Tanto que eles se tornaram a primeira nação a institucionalizar a semana de 4 dias de trabalho, adotando-a em organizações governamentais e no seu banco central.
Ainda que o conceito não tenha atingido escala nacional em outros pontos do mundo, diversas empresas já estão o adotando. Esse é o caso do fast-food norte-americano Shake Shack, das gigantes tecnológicas japonesas Microsoft e Panasonic, entre muitas outras companhias.
No Brasil, a marca de produtos pet Zee Dog foi pioneira na América Latina, adotando esse modelo em 2018. Seguida dela, a startup mineira Crawly também ganhou destaque com essa estrutura.
Já em 2022, a agência Shoot chamou a atenção por aumentar em 300% o interesse de novos talentos em suas vagas por meio da jornada reduzida, como relata uma matéria da Mackenzie.
Essa tendência já chegou no Brasil
A semana com 4 dias de trabalho já chegou no Brasil por meio de empresas pioneiras. Apesar de esse ainda ser um movimento pontual de mercado, espera-se que a sua adesão cresça partir de 2024. Isso porque, as companhias nacionais também serão submetidas a um experimento análogo ao da Nova Zelândia.
O projeto será realizado pela 4 Day Week Global. Entre junho e julho deste ano, a organização realizou 5 sessões abertas para receber as organizações interessadas. Nesse momento, elas puderam esclarecer suas dúvidas, entender os benefícios e se aplicar para a ação.
A partir de agosto, a segunda fase é iniciada. Nela, o projeto-piloto será planejado até outubro, para que os negócios participantes possam se preparar para a implementação.
De novembro de 2023 a abril de 2024 o experimento irá ocorrer de fato. Nele, as organizações participantes irão submeter seus colaboradores a 32 horas semanais de trabalho sem redução de salário.
O objetivo é avaliar como a semana de 4 dias impacta a qualidade de vida e bem-estar dos brasileiros e pode favorecer o aumento da produtividade. Espera-se que, a partir dos resultados, o formato passe a ganhar mais adeptos no país.
Globalmente, o maior teste da 4 Day Week Global ocorreu no Reino Unido. Foram 61 empresas e 2.900 colaboradores. 91% das companhias participantes mostraram interesse em adotar a metodologia. Neste ano, Portugal também virou participante, com 39 empresas e 1.000 profissionais.
Dos principais resultados dos experimentos, observou-se a redução do estresse e melhoria na saúde mental e física dos trabalhadores. Além disso, as corporações reportaram uma diminuição significativa de turnover e aumentos de receita. Os dados foram divulgados pela CNN.
E o que a lei diz sobre a semana de 4 dias
A legislação trabalhista não possui nenhum tipo de impedimento em relação à semana de 4 dias de trabalho.
Como o salário dos funcionários continua o mesmo nesse formato, nenhum direito é ferido. Atualmente, a regra geral é que a jornada de trabalho tenha 8 horas diárias e 44 horas semanais, com possibilidade de descanso remunerado.
Com a Reforma Trabalhista de 2017, também foi instituída a carga horária de 30 horas semanais sem horas extras. Além dela, há a opção de 26 horas semanais e outras 6 horas extras pagas.
Nessas situações, as organizações podem implementar a jornada parcial, com 4 dias trabalhados. Contudo, os colaboradores não podem ultrapassar o limite de horas previsto contratualmente em nenhuma hipótese.
Se houver pretensão de diminuir o salário, é necessária a anuência do sindicato profissional. Se não for o caso, os negócios ficam livres para reduzir as jornadas.
Quais são as vantagens para os colaboradores e para a empresa?
Basta conhecer mais a fundo a proposta da semana de 4 dias úteis para perceber os seus benefícios para os colaboradores e para as empresas. Entre as principais vantagens, destacam-se:
Redução do estresse e burnout
Como você pôde ver, a grande vantagem da abordagem é o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Ao ter um dia extra de descanso, os profissionais têm mais tempo para recarregar suas energias, reduzindo os níveis de estresse e prevenindo o esgotamento profissional, conhecido como burnout.
Aumento da motivação e produtividade
Além de reduzir o absenteísmo e melhorar a qualidade de vida dos colaboradores da equipe, a perspectiva de um dia a menos de trabalho por semana pode aumentar a sua motivação.
Sabendo que terão um tempo extra para si mesmos, os colaboradores tendem a ser mais eficientes e focados durante o expediente. Como resultado, há um significativo aumento da produtividade.
Atração de talentos e retenção de colaboradores
Evidentemente, os melhores talentos querem atuar em empresas que valorizam a sua saúde mental e qualidade de vida.
Empresas menos estressantes, que incentivam a motivação da sua equipe e que aproveitam o potencial produtivo das pessoas da melhor forma se tornam mais atrativas. Isso impacta diretamente na atração de bons profissionais e na sua retenção.
Diminuição do impacto ambiental
Com menos dias de trabalho, há uma redução na necessidade de deslocamento diário e no consumo de recursos, como eletricidade e água.
Isso contribui para uma pegada ambiental mais sustentável. Dessa forma, a empresa consegue promover um melhor aproveitamento dos seus recursos, diminuir gastos e ainda melhorar sua imagem perante o mercado.
Redução de custos
Além dos custos básicos com luz e água, a semana de 4 dias ainda minimiza despesas administrativas e com manutenções de equipamentos.
Por mais que ainda possa soar não intuitivo para alguns contratantes, a redução da jornada semanal faz muito bem para as finanças. Afinal, enquanto os gastos diminuem, o ganho de produtividade favorece a geração de valor do negócio, otimizando seus lucros.
Como as empresas podem testar a semana de 4 dias?
Se você quer sair na frente e deseja testar os benefícios da semana de 4 dias na sua empresa antes que ela ocupe de vez o mercado de trabalho brasileiro, vale focar em algumas boas práticas para a sua implementação. São elas:
Faça um bom planejamento
Para manter o bom nível das entregas com um dia a menos de trabalho e ter mais foco em resultados, é essencial planejar-se bem. Semanalmente, defina as atribuições de cada talento, suas prioridades, estabeleça metas claras e dê o suporte necessário para a equipe alcançá-las.
Otimize as reuniões semanais
Se os profissionais têm 8 horas a menos por semana, seu tempo deve ser otimizado. Por isso, priorize apenas as reuniões necessárias e elimine aquelas que “poderiam ser um e-mail”. Com uma boa gestão operacional, há melhores condições para todos cumprirem o planejamento.
Foque nos resultados
Na semana de 4 dias, os gestores devem abandonar o foco no número de horas trabalhadas. A prioridade são os resultados entregues pelo time. Por isso é tão importante ter metas claras no planejamento, pois elas irão nortear a entrega de valor dos membros da equipe.
Avalie a experiência
Depois das primeiras semanas, avalie os resultados obtidos. As metas foram alcançadas? A equipe está mais engajada? Qual a percepção dos gestores? Os custos diminuíram? A produtividade aumentou? Todo indicador conta para determinar o sucesso da experiência.
Perguntas frequentes
Como a semana de 4 dias auxilia no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional?
A semana de 4 dias gera mais tempo livre, reduzindo o cansaço e o estresse. Isso permite mais descanso e espaço para atividades fora do trabalho. Além do equilíbrio à vida profissional, isso aumenta o engajamento, satisfação e o foco produtivo nos períodos trabalhados.
Quais países trabalham 4 dias por semana?
Nova Zelândia, Espanha, França, Reino Unido, Dinamarca, Islândia e Emirados Árabes já adotaram a semana de 4 dias. Além disso, Portugal, EUA, Canadá, entre outros, já testam sua implementação. Um experimento será realizado no Brasil a partir de novembro de 2023.