Assim como em qualquer ambiente, o convívio no local de trabalho pode despertar sentimentos nas pessoas que atuam naquele ambiente. Consequentemente, essas interações podem resultar em um relacionamento afetivo. E é dever do RH saber como lidar com as situações de namoro no trabalho.
Isso porque, caso não haja uma boa comunicação e política interna que imponha limites, o relacionamento no trabalho pode afetar toda a organização e até a imagem da empresa.
Para evitar isso, mas sem constranger o casal, é preciso que você, como profissional de RH, fique atento a algumas condutas e leis. Saiba quais são elas e tire suas dúvidas sobre esse tema, nos próximos tópicos!
Qual o papel do RH em casos de namoro no trabalho?
Primeiramente, é importante saber que o RH não pode proibir o relacionamento no trabalho, apenas pontuar limites. Segundo o artigo 5º da Constituição Federal, nenhuma empresa pode impedir o namoro entre colegas de trabalho, pois isto viola a intimidade e vida privada dos colaboradores.
Sendo assim, o que irá delimitar a postura e exigir a discrição é a política interna da instituição. Por exemplo, um ambiente frequentado por clientes, como é o caso de hotéis, ter colaboradores se beijando no saguão não é um comportamento profissional e pode causar incômodo aos transeuntes.
Para evitar esse tipo de situação, o RH precisa ter uma comunicação clara e transparente com os funcionários. Trate o assunto como algo normal, demonstrando que não há proibição de relacionamento entre colegas de trabalho.
Para gerar uma boa gestão de pessoas, por exemplo, você pode flexibilizar os horários para que eles possam trabalhar juntos (se assim desejarem), promover férias no mesmo período, entre outros fatores que facilitam a vida a dois dos profissionais. Isso proporcionará mais qualidade de vida, satisfação e aumento de produtividade.
Todavia, lembre-os das normas internas e explique o que causaria uma penalidade ou demissão por justa causa. O bom-senso e respeito deve estar em voga, tanto da parte do casal quanto da corporação.
O intuito deve ser sempre prezar pela cultura organizacional, direitos trabalhistas e bem-estar dos colaboradores, mas sem que isso afete a felicidade do cliente e a imagem da empresa. Para entender mais sobre essas diretrizes, leia nosso conteúdo sobre Regulamento Interno!
Relacionamento no trabalho diminui a produtividade?
É comum que o primeiro pensamento que você, como profissional de RH, seja questionar o quanto esse relacionamento no trabalho pode afetar a produtividade. Porém, ela só irá diminuir caso o seu setor não consiga estipular uma boa conduta.
Segundo a pesquisa da Society for Human Resource Management (SHRM), as pessoas que já se envolveram com algum colega de trabalho relatam terem se tornado mais dedicadas à profissão. Especialistas afirmam que isso é percebido, pelo menos, no primeiro ano de relacionamento.
Por isso, este é mais um motivo para que o RH torne o ambiente corporativo acolhedor e não dite regras sem necessidade que acabam reprimindo os colaboradores. Lembre-se que a forma como a empresa lida com o namoro no trabalho influencia na produtividade e no clima organizacional.
Namoro no ambiente de trabalho causa demissão?
Como foi dito anteriormente, é contra a lei proibir o relacionamento no trabalho. Sendo assim, apenas este fato isolado não pode gerar uma demissão por justa causa. Porém, dependendo da conduta exercida pelo casal, o regulamento interno pode ser violado, e, assim, a justa causa pode ser aplicada.
Segundo o artigo 482 da Lei nº 5.452, é apenas justificada a demissão de justa causa em casos do namoro no trabalho causarem:
- Incontinência de conduta ou mau procedimento;
- Desídia no desempenho das respectivas funções;
- Ato de indisciplina ou de insubordinação.
Todavia, é importante que a empresa trate esse assunto com discrição, para que os envolvidos não sejam expostos e acabe gerando conflitos ou fofocas entre os colaboradores. Até porque, caso comprovado, os profissionais podem abrir processo sobre danos morais causados pela exposição indevida do caso.
O que a empresa não pode fazer?
É de bom tom que a instituição não crie ou estipule regras desnecessárias, como limite de abraços durante a jornada de trabalho ou restrição de demonstração de afeto em horário de almoço.
A empresa também não pode demitir, punir ou reprimir o colaborador apenas por decorrência do relacionamento no trabalho. E isto é válido inclusive para casais com níveis hierárquicos diferentes.
O primeiro reflexo que o profissional de RH tem é pensar que o chefe vai privilegiar o seu parceiro em detrimento dos colegas de trabalho de mesmo nível hierárquico do “cônjuge”, oferecendo promoções, promovendo quebra de normas e dando feedbacks positivos, ainda que o desempenho não justifique tais recompensas.
Entretanto, mesmo esse tipo de namoro não deve ser reprimido. Apenas é importante averiguar para concluir que a relação não se trata de um assédio moral na empresa.
O RH pode criar regulamento interno sobre namoro no trabalho?
É responsabilidade do RH regulamentar o que pode ou não ser feito quando o assunto é namorar no trabalho. Isso deve ser estabelecido em um regimento de política interna. Essa prática é de suma importância para evitar conflitos entre colaboradores e diretoria que afetam a qualidade de vida no trabalho e a liberdade garantida por lei.
Porém, essa infelizmente não é uma realidade tão presente nas empresas. Segundo estatísticas da Callcenter, mais de 55% das instituições não possuem política sobre relacionamento no trabalho, e quase 20% dos colaboradores não sabem se existe uma regulamentação interna ou não.
Isso reflete o quanto as corporações ainda não se atentaram sobre esse cuidado que o RH deve ter. Entretanto, é através dele que a empresa consegue evitar injustiças e constrangimentos, além de pontuar limites de conduta.
Por isso, é imprescindível a criação desse documento, para que, assim, os colaboradores se sintam mais à vontade para manterem os relacionamentos afetivos sem receio de sofrer penalidades ou demissões.
Um casal pode trabalhar na mesma empresa ou isso fere o regulamento?
Proibir casais de trabalharem na mesma empresa infringe a lei de liberdade do colaborador. Sendo assim, não se pode criar uma regra no regulamento interno que separe esses profissionais.
Algumas multinacionais têm o costume de transferir a outras áreas/unidades os colaboradores que namoram com seus colegas de trabalho. A medida, apesar de mais branda do que uma demissão, denota falta de tolerância da empresa frente a relacionamentos entre colaboradores.
Até porque, o critério para a mudança de área neste caso foi motivado por algo que não o desempenho profissional do funcionário, além de ferir o seu direito à intimidade conforme defende o artigo 5º já visto. Sendo assim, esta não é uma conduta recomendada por parte da empresa.
É preciso que se evite o radicalismo nesses casos, pois isso pode atrapalhar até na produtividade dos funcionários e na imagem e postura da empresa perante o mercado. Portanto, procure sempre conversar com os envolvidos e explicar as regras, mostrando que a instituição é receptiva ao afeto fundado.
Criando a política de namoro na empresa
Para facilitar a compreensão e ação do RH, dividimos a criação de uma política de namoro na empresa em alguns tópicos:
Basear-se na cultura organizacional
Antes de qualquer coisa, o RH deve recorrer à cartilha de missão, visão e valores da organização, a fim de se manter fiel à cultura organizacional. Toda a empresa tem um DNA, que deve refletir em todos os aspectos de suas normas e procedimentos.
Qualquer política organizacional incongruente com a cultura gera descontentamento dos colaboradores em longo prazo, e com a questão do namoro entre funcionários não é diferente.
A cultura empresarial pode definir, por exemplo, se o casal deve ou não comunicar a gerência sobre o início do namoro.
Comunicar para todos os colaboradores
Pouco (ou nada) adianta criar uma política justa e congruente de namoro na empresa se os colaboradores não têm conhecimento pleno sobre ela. É por isso que a comunicação é tão crucial.
É fundamental ser claro em relação ao assunto quando for comunicá-lo a funcionários atuais, funcionários admitidos e candidatos a vagas.
Uma prática assertiva nesse sentido é ter um mural de comunicação entre o RH e os colaboradores. Ele pode ser digital ou físico — o importante é que haja espaço para lembretes fixos (como os da política de namoro da empresa) e lembretes pontuais.
Conversa entre gestor e colaborador
Os gestores devem ser o mais discretos e transparentes possível na conversa que tiverem com os subordinados que estão namorando. A ideia é deixar os profissionais tranquilos, cientes de que o relacionamento não será malvisto pela empresa e que eles não sofrerão qualquer forma de represália, nem mesmo indireta.
É nesse momento que os gestores devem salientar que, por mais que a empresa não coíba o namoro, em ambiente de trabalho os colaboradores devem manter uma postura profissional. Então nada de apelidos “carinhosos”, trocas de emails com teor amoroso, encontros casuais nos corredores, brigas e outras manifestações típicas de um casal.
Tire as dúvidas dos colaboradores
Por último, mas não menos importante, mantenha um tom comunicacional de abertura, para que todos os colaboradores se sintam à vontade para tirar dúvidas e sanar questionamentos.
Esse é um passo necessário para evitar distorções de interpretação, deixando sempre uma informação clara e transparente. Você pode, por exemplo, criar um mural na empresa para responder perguntas anônimas, e, assim, esclarecer quaisquer preocupações dos profissionais sobre esse e outros assuntos de política interna.
Por fim, a lição que você, como profissional de RH deve tirar desse conteúdo, é a importância de elaborar um regimento que aborde todas as questões interpessoais e culturais da empresa. Para que assim o ambiente de trabalho se mantenha com qualidade. Para lhe ajudar nessa etapa, criamos um template de normas e políticas que pode ser baixado gratuitamente!